quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Era apenas um menino de três corações.

Foi depois de muito esperar, e apenas após participar de muitos projetos experimentais, que Joana percebeu estar grávida. Ela e seu marido, finalmente, completavam um dos seus mais profundos desejos – ter uma criança. Entretanto, já nos primeiros exames médicos, foi constatado que o embrião possuía uma estranha anomalia – algo jamais visto na espécie humana e quiçá em qualquer outra espécie animal - e que ,certamente, levaria à morte do feto. Provavelmente, devido aos tratamentos experimentais aos quais a mãe se submetera, o feto havia sido formado com três corações. Não existiam evidências na literatura médica de que isso já houvesse acontecido, então os médicos não estavam certos das verdadeiras consequências da anomalia; mas concordavam com o fato de que certamente a criança não sobreviveria.
Joana resolveu contrariar todas as recomendações, seguindo com a gravidez. Afinal, aquele era o filho por que tanto esperara, o acompanharia até as últimas consequências. E foi, talvez, pelo grande zelo da mãe, por seu carinho e dedicação, que nasceu Joaquim. E, ao contrário do que todos os médicos esperavam, o pequeno rapaz não apresentava nenhuma debilidade. Quem não soubesse do fato, jamais imaginaria o que havia no peito do jovem menino.
O tempo foi passando e, apenas quando Joaquim entrou na pré-adolescência, surgiram os primeiros sintomas. Mas não foram sintomas médicos propriamente. Acontecia que toda vez que Joaquim se apaixonava, não se apaixonava por uma só garota, mas sempre por três de uma só vez. E o pior, quando sofria de amor, sofria três vezes mais. Por isso, evitava se apaixonar, pois mesmo se namorasse uma das meninas, ainda sofreria pelos outros dois amores que não poderia ter.
E quem não sabia do problema congênito do rapaz, ouvia fascinado os seus discursos embriagados já na época de faculdade : “ E por que amar uma só pessoa? E por que ser amado por uma só pessoa? Amo três mulheres de uma só vez. E nenhum amor é menor que o outro. Amo todas com todo o meu coração. Três amores inteiros não valem mais do que um amor pela metade? Quantas pessoas não juram um amor eterno, que deixam ser consumido pela falta de fantasia, de alegria, de carinho, de imaginação? Amar deveria ser verbo intransitivo. Ama-se apenas. Não se precisa amar alguém. Façamos do amor um estado de ser. Não importa a quem amamos, ou quantas pessoas amamos. Apenas amemos e sejamos contentes. Sem prisões, sem máscaras, sem jogos. E se quisermos escolher um companheiro ou companheira para vida, façamos também. Mas façamos com alegria, com magia, com tesão. Que priorizemos o amor aos princípios, e prefiramos a felicidade à moral. Sejamos amantes muito mais do que hipócritas.”
E foi nesses mesmos tempos de faculdade que Joaquim encontrou o amor de sua vida, ou melhor, os amores de sua vida: Gérbera, Rosa e Margarida. As três eram colegas de Joaquim em aulas diferentes e, pelo que o jovem sabia, não se conheciam. Joaquim amava tanto aquelas três mulheres e acreditava tanto na verdade de seu amor, que resolveu correr o risco de namorá-las ao mesmo tempo. E nessa época, foi o homem mais feliz do mundo. Três vezes mais feliz do que qualquer outro homem cujo amor é correspondido. Mas a felicidade de Joaquim, além de intensa, foi rápida. As três moças descobriram o que Joaquim fazia enquanto supostamente estaria ajudando a mãe em alguma tarefa doméstica ou o pai no seu trabalho. Não sabiam dos três corações de Joaquim e, por isso, julgavam-no um grande traidor. A dor das separações foi terrível, e Joaquim sofreu três vezes mais do que qualquer homem já sofreu ao perder a mulher amada. Tanta foi a sua dor que Joaquim, totalmente atordoado, decidiu-se por tomar um atitude drástica: com dois golpes certeiros, esfaqueou dois de seus corações. Assim, com a ajuda do acaso, escolhia apenas uma mulher para amar.
As três moças ao saber do acontecido, ficaram comovidas pela história do namorado e pelo bravio ato de amor. Correram ao hospital para saber, enfim, quem teria a sorte de ficar com tão apaixonado rapaz. Joaquim recém tinha acordado, quando percebeu a companhia das três. A primeira que viu foi Gérbera, ela era linda; mas definitivamente não sentia mais nenhum amor por ela. Virou-se um pouco e deparou-se com Rosa. Olhava-a intensamente, mas nada sentia. Margarida já deixava escorrer uma lágrima, quando Joaquim a reconheceu. Não sabia o que estava acontecendo. Por mais que se esforçasse, também nada sentia por Margarida.
Foi depois de muitos debates e estudos que os médicos finalmente entenderam a situação. Pelo que tudo indica, um dos corações esfaqueados era, na verdade, bígamo. E o que restara no peito de Joaquim era justamente o que ainda não tinha sido cativado.

10 comentários:

Lápis Sara disse...

Que lindo! Amei!

Unknown disse...

Show de bola... Adorei o texto... Cê tem vocação, hein muleque! :)

Kátia disse...

Parabéns pelos textos, Nathan. Estão muito bem escritos e prendem a atenção.
Continua, tu tens talento...
[]s
Kátia
blog: Biblioteca ETS

Silvana Schuler Pineda disse...

Uau!!! Adorei!!! Não posso dizer que escondias o talento, porque já li escritos teus em outros contextos e sempre te colocas muito bem. Continua investindo nisso. Engenharia Mecânica? Não era Física?
Saudades tuas. Muita saudade.

Juliana disse...

Bah! Muita criatividade, desde o começo até o fim. Um coração bígamo :O
Além disso está muito bem escrito..
Como o meu forte não é escrever e sim ler, vou fazer um comentário breve: ADOREEEI!

Beijos, Ju.

Unknown disse...

Legal !!
Que criatividade pra histórias,hein ?!?!
Parabééns !

Unknown disse...

Olá...Nêithan...:)
olha só, acho que tudo pode ser aproveitado para crescimento (to defendendo o meu antes já hehe).
Me lembrou bastante os textos do Augusto Cury. Não que eu os ache ruins, mas pouco me ajudaram em cresimento real.
Não quero criar polêmica. Talvez eu não tenha conseguido captar a mensagem mais profunda.
Vou ler de novo...

Diva Rossi disse...

Nathan!
Muito interessante esse teu conto, confesso que quando comecei a ler pensei que Três Corações era a cidade do menino(risos).Teu texto foi me envolvendo, é o tipo de leitura que pede para que a gente continue e leia até o fim, a história é ótima, imaginei até um curta com ela, quem sabe eu atuasse nele, só pra relembrar meus velhos tempos de atriz!(mais risos). Brincadeiras à parte, só tenho a te dizer uma coisa: GO ON!! Continue, em bom português... E nem liga para alguns comentários sem sentido que porventura alguém que não te conheça o bastante possa vir a fazer, pois eu e mais algumas pessoas que tiveram o privilégio de te conhecer e ter como amigo sabemos que tua intenção não é"fazer alguém crescer", porque, aliás, acho que por aqui já tem gente bem crescidinha, não é mesmo? E"autoajuda"não é e nem nunca foi tua bandeira, já que tua trajetória de vida ajudou e vai ajudar muita gente naturalmente, como algum tipo de mensagem subliminar que costura a vida daqueles que querem passar por ela e extrair o néctar da beleza e da sabedoria. Um abraço e que os deuses da inspiração sempre olhem por ti!

Unknown disse...

Nathan,
juro que foi com a melhor das intenções que postei o comentário.
Já imaginava esse tipo de reação, desculpas peço a ti e aos que ofendi com meus "comentários sem sentido". Não pretendia te diminuir nem a quem lê.
Não há motivos para aritos, retiro-me sem amargura.
Abraço.
Digão (para quem não me conhece, MUITO AMIGO TEU SIM)

Hannah Alff disse...

Nossa Nathan...
Muito bom seu texto, sei que faz bastante tempo que escreveu, mas só agora tive a oportunidade de lê-lo...
Olha, nunca havia lido um texto com essa quantidade de conteúdo que realmente tivesse chamado minha atenção do início ao fim, muito bom mesmo...
Infelizmente nunca tive a oportunidade de conversar com você pessoalmente, mas saiba que naquela apresentação que você fez no dia das mães no CMPA da TNT(se não em engano em 2007), eu estava lá, e acredite, foi a melhor festa até hoje...
Parabéns e muito sucesso, o qual você naturalmente já conquistou sozinho...
Bjss